Vocação para Felicidade!

Vocação para a felicidade!

Não escreverei versos chorosos
cantando tristezas infinitas,
amores impossíveis, saudades
dolorosas, paixões trágicas e não
correspondidas.


Tenho a vocação para a felicidade.
Ser feliz não me traz sentimento
de culpa.
Não preciso da tristeza para justificar
a inutilidade da vida.


Não preciso morrer e ir ao céu para
encontrar a felicidade.
Quero-a e tenho-a neste espaço
terreno do aqui e do agora.


A felicidade, tal e qual, o amor está
dentro de mim e transborda em
ternuras, em melodias, em carinhos,
em alegrias, em cantos e encantos.


Sou feliz e não preciso me justificar.
Sorrio sem ver passarinho verde.
Não tenho medo de ser feliz.


Faço minha estrela brilhar sem receio
dos encontros, desencontros, encantos
e desencantos que o amor me diz.


Contrariedades? Eu as tenho!
E quem não as tem na vida secular?
Escassez de dinheiro?
Nem é bom falar.


Amores não correspondidos?
Separações? Rejeições?
Saudades incuravéis?


Carinhos reprimidos, ternuras
guardadas, sem a contra parte
do outro?


Eu tenho aos montões.
Sou o rei das perdas, necessarias
ao meu crescimento.
Contudo quem não soube a sombra
não sabe a luz.


E num livro de matemática existencial
juntei todos esses problemas insolúveis,
com as respostas nas últimas páginas.


Mas pra que me debruçar sobre eles,
procurando a solução se a própria
vida me conduz a resposta final?


Sem medo de ser feliz vou por
aqui e por ali...
Por onde os caminhos, as trilhas,
os atalhos me levarem, traçando
meu rumo.


Às vezes com alguma tristeza,
mas quem disse que a felicidade
é o contrário da tristeza?
Tristeza é só uma momentanêa
falta de alegria!


É, amigo, amanhã é sempre um
novo dia e quando a infelicidade
passar por aqui, minhas malas
estarão prontas para eu ir por ali.




(Carlos Drummond de Andrade).